martedì 19 aprile 2016

e amo sempre e amo sempre più

Lettera

Vorrei scriverla proprio
con parole risapute,
le stesse, usuali,
seppure frementi
di un tocco di passione.
Forando gli oscuri
canali di argilla e ombra,
essa andrebbe raccontando
che sto bene, e amo sempre
e amo sempre più
in questa mia maniera
contorta e reticente,
e aspetto una risposta,
ma che non tardi; e chiedo
un oggetto minuscolo
solo per dar piacere
a colui che lo offre;
essa direbbe del tempo
che fa dalle nostre parti;
le piogge sono cessate,
i bambini studiano,
un’ultima invenzione
(non ancora perfetta)
fa leggere nei cuori,
ma tutti noi speriamo
di rivederci presto.

Tanto presto, non proprio.
Si sta facendo il tempo
stranamente lungo
via via che si accorcia.
Ciò che ieri scattava,
cavallo dirompente,
oggi si paralizza
in sfinge di marmo,
e anche il sonno, il sonno
che era grato e era assurdo
è un dormire sveglio
in una cupa pianura.
Rapido è il sogno, appena,
che fugge, di mandare
notizie amorose
quando non c’è amore
da dare o da ricevere;
quando è solo ricordo,
ancora meno, polvere,
meno ancora, niente
niente di niente in tutto,
in me più che in tutto,
e non serve svegliare
chi magari riposa
sulla collina spoglia.
Eppure questa è una lettera

Carlos Drummond de Andrade
Sentimento del mondo
trentasette poesie scelte e tradotte
da Antonio Tabucchi
Einaudi 1987

Carta

Bem quisera escrevê-la
com palavras sabidas,
as mesmas, triviais,
embora estremecessem
a um toque de paixão.
Perfurando os obscuros
canais de argila e sombra,
ela iria contando
que vou bem, e amo sempre
e amo cada vez mais
a essa minha maneira
torcida e reticente,
e espero uma resposta,
mas que não tarde; e peço
um objeto minúsculo
só para dar prazer
a quem pode ofertá-lo;
diria ela do tempo
que faz do nosso lado
as chuvas já secaram,
as crianças estudam,
uma última invenção
(inda não é perfeita)
faz ler nos corações,
mas todos esperamos
rever-nos bem depressa.

Muito depressa, não.
Vai-se tornando tempo
estranhamente longo
à medida que encurta.
O que ontem disparava,
desbordado alazão,
hoje se paralisa
em esfinge de mármore,
e até o sono, o sono
que era grato e era absurdo
é um dormir acordado
numa planície grave.
Rápido é o sonho, apenas,
que se vai, de mandar
notícias amorosas
quando não há amor
a dar ou receber;
quando só há lembrança
ainda menos, pó,
menos ainda, nada,
nada de nada em tudo,
em mim mais do que em tudo,
e não vale acordar
quem acaso repousa
na colina sem árvores.
Contudo, esta é uma carta.

Antologia Poética

Editora Record, 1999

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